Porto Velho – 23 de setembro de 2024 - O Rio Madeira, um dos mais importantes eixos de transporte fluvial do Brasil, registrou na madrugada desta segunda-feira (23) o nível mais baixo da sua história: apenas 25 centímetros, segundo dados da Defesa Civil. Este é o menor valor desde o início do monitoramento, em 1967. A crise hídrica, que atinge Rondônia com severidade, já levou à paralisação total das operações no Porto de Porto Velho, impactando diretamente a economia do estado, que depende intensamente da navegação para o escoamento de mercadorias.
A seca histórica compromete a navegabilidade do rio, formando bancos de areia e expondo pedrais, o que resultou no encalhe de diversas balsas e embarcações ao longo do percurso. Segundo o diretor-presidente da Sociedade de Portos e Hidrovias de Rondônia (Soph), Fernando Parente, esta é uma das piores crises para a navegação no Rio Madeira já enfrentada. “Assim que as condições do rio melhorarem, o Porto retomará suas operações com agilidade”, afirmou Parente, destacando que a segurança de navegação está no centro das decisões.
Impactos econômicos alarmantes
A paralisação do Porto de Porto Velho afeta diretamente a movimentação de cargas essenciais, incluindo grãos como milho e soja, fertilizantes, biocombustíveis, produtos asfálticos, além de alimentos, bebidas e veículos. Normalmente, o porto movimenta cerca de 200 mil toneladas de mercadorias por mês. Durante a estiagem, esse número já costuma cair para cerca de 40%. Entretanto, com o agravamento da seca, a meta de movimentar 100 mil toneladas em setembro tornou-se impossível, segundo dados preliminares divulgados pela Soph.
Este cenário afeta profundamente a economia de Rondônia, que depende da exportação de seus produtos agrícolas. Com a suspensão do tráfego fluvial, o escoamento da produção de grãos, principalmente soja e milho, é interrompido, causando prejuízos aos produtores e às empresas de logística. Além disso, a chegada de insumos como fertilizantes, fundamentais para a próxima safra, também foi comprometida, o que pode gerar um efeito cascata no setor agroindustrial.
O transporte de biocombustíveis, massa asfáltica e outras cargas líquidas está igualmente prejudicado, elevando os custos e dificultando o abastecimento de várias regiões. Rondônia, que já sofre com os desafios logísticos, agora enfrenta um gargalo ainda maior, que pode refletir no aumento dos preços de combustíveis e insumos.
Estiagem histórica e crise no setor energético
A estiagem severa em Rondônia faz parte de um fenômeno que afeta toda a região Norte do Brasil. As chuvas abaixo da média reduziram drasticamente o volume dos rios, afetando tanto o transporte quanto a geração de energia elétrica. O Rio Madeira é uma importante fonte de energia hidrelétrica, e o baixo nível das águas ameaça a capacidade das usinas de gerarem eletricidade, elevando os riscos de racionamento e de aumento no custo da energia para consumidores e indústrias.
Segundo especialistas, a crise hídrica tem raízes em mudanças climáticas globais, que estão alterando os padrões de precipitação na Amazônia. Esses eventos extremos, como a atual seca, estão se tornando cada vez mais frequentes e imprevisíveis, forçando autoridades e setores produtivos a buscarem soluções emergenciais.
Soluções em discussão
Diante desse cenário, a Sociedade de Portos e Hidrovias de Rondônia (Soph) está atuando em várias frentes para mitigar os impactos da crise. A entidade tem prestado suporte técnico às embarcações encalhadas, fornecendo equipamentos como bombas de remoção de água, e está participando ativamente do Comitê de Crise Hídrica, junto a órgãos como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Marinha e a Federação Nacional das Empresas de Navegação (Fenavega).
Embora não haja uma previsão imediata para a retomada das operações no Porto de Porto Velho, a Soph trabalha em articulação com as autoridades para monitorar as condições do Rio Madeira e implementar ações de curto prazo que reduzam os prejuízos.
Enquanto isso, a expectativa no setor produtivo é de que o nível do rio volte a subir nas próximas semanas, com o início das chuvas na região. No entanto, até que isso ocorra, os impactos econômicos da crise hídrica continuarão a se espalhar, trazendo incertezas para agricultores, empresas de navegação e consumidores.
A situação no Rio Madeira exemplifica os desafios que o Brasil, e especialmente a região Norte, enfrentam devido à vulnerabilidade às mudanças climáticas. Rondônia, com sua forte dependência do transporte fluvial e da produção agrícola, sente diretamente os efeitos dessa nova realidade climática, e a recuperação plena da atividade econômica pode depender de soluções estruturais que ofereçam mais resiliência ao estado frente a crises como esta.
(Reportagem: João Teixeira / Guajará Notícias)
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